terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Melhores práticas inclusivas

Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo premia entidades que desenvolveram práticas inclusivas que se destacaram em 2012

Entidades que trabalham a favor das pessoas com deficiência tiveram seus projetos reconhecidos no 3º Prêmio Ações Inclusivas para Pessoas com Deficiência (edição 2012), da Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Nesta edição, ocorrida na semana passada,


foram inscritos representantes da gestão pública e de instituições não governamentais sem fins lucrativos de todo o Estado. De acordo com os critérios estabelecidos no regulamento do prêmio, 30 ações finalistas receberam certificado de participação e foram selecionadas. As dez melhores práticas inclusivas ganharam troféu, placa de menção honrosa, divulgação na impressa e no site da secretaria.

O Brasil tem cerca de 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, e somente no Estado de São Paulo esse número ultrapassa 9 milhões. De acordo com a pasta, o prêmio visa ao reconhecimento público, à promoção e difusão de práticas bem-sucedidas, adotadas por instituições públicas e privadas, voltadas à inclusão social, à defesa de direitos e à cidadania da pessoa com deficiência. E que possam ser replicadas como referência em outras localidades do Estado e do País.



Personalidades do ano



Foram 140 projetos inscritos, dos quais 38 saíram finalistas. Desses, foram premiadas as dez melhores práticas inclusivas do Estado: cinco governamentais e cinco não governamentais.

Concorreram ao prêmio práticas inclusivas realizadas nos municípios de Barueri, Bauru, Bertioga, Campinas, Capuava, Caraguatatuba, Jundiaí, Lençóis Paulista, Limeira, Lorena, Peruíbe, Piracicaba, Ribeirão Preto, Santos, São Caetano do Sul, São José dos Campos, São José do Rio Preto, capital, Sorocaba e em outras cidadespaulistas.

Os promotores de Justiça Julio Cesar Botelho e Lauro Luiz Gomes Ribeiro foram reconhecidos como personalidades do ano 2012 na área de defesa dos direitos e inclusão

da pessoa com deficiência.

Nas categorias menção honrosa e governamental, o prêmio foi para duas entidades estaduais. O primeiro para a Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho, com o Programa de Apoio à

Pessoa com Deficiência (Padef), criado em 1995. O projeto visa a ajudar essas pessoas a conseguir uma colocação no mercado de trabalho. Até hoje, mais de 12 mil delas estão empregadas graças à atuação do programa.

E o segundo foi para o Laboratório de Acessibilidade – Biblioteca Central Cesar

Lattes (LAB), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).



Destaque – Inaugurado em dezembro de 2002, tem como intuito garantir aos alunos com deficiência o direito de realizar seus estudos de nível superior em ambientes inclusivos de ensino e aprendizagem. O LAB comporta pequeno acervo de livros em braile e de audiolivros, em MP3 e em formato Daisy, bem como obras de referência em mídia digital, como dicionários, tradutores, entre outras.

Na categoria destaque, o projeto Atendimento ao Cidadão em Situação de Emergência, do Centro de Processamento de Dados da Polícia Militar do Estado, foi um dos vitoriosos. “É a primeira vez que participamos”, diz entusiasmado o major Francisco Cangerana. Por meio de SMS (celular), a pessoa surda pode solicitar os serviços de emergência, quer do policiamento, quer dos bombeiros, utilizando esse recurso sem custos e – o melhor – sem

intermediários, diz.

Ainda na categoria destaque, o município de Caraguatatuba conquistou o prêmio com o projeto Caraguá Acessível:

Construindo Espaços Inclusivos. De acordo com a Secretaria Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (SMDPD) o projeto une seis pontos turísticos que beneficiam o lazer por meio de uma rota acessível, incluindo recursos adaptados e construções conforme o “desenho universal”, possibilitando o acesso, a mobilidade e a participação desse contingente de pessoas

com as demais da cidade.

A iniciativa é resultante de parceria entre a equipe interdisciplinar da SMDPD de Caraguá com as secretarias de Trânsito e de Obras, além de associações da sociedade civil, conselhos, pessoas com deficiências, mobilidade reduzida e de idosos.

Maria Lúcia Zanelli

Da Agência Imprensa Oficial



quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Transporte público e acessibilidade



Trânsito caótico em São Paulo. Sete milhões de carros. Toda metrópole necessita de uma grande e eficaz rede de transporte público. Com preços altos para comprar carros adaptados, ou até para adaptar os carros, o transporte público acaba sendo uma alternativa para as pessoas com deficiência.


Ronaldo Garcia, funcionário público do Tribunal militar utiliza transporte público em São Paulo, mas deixou de utilizar ônibus, por não atender suas necessidades. “Utilizo o metrô quase todos os dias, só não o faço em dia de chuva. Aí vou com minha própria condução. O metrô me trouxe uma independência enorme, com ele vou pra todo lugar em Sampa”, argumenta.

Além de dar autonomia, o metrô é apontado como um dos veículos mais rápidos, já que funciona no subterrâneo. Um problema encontrado é a acessibilidade, pois a falta de elevadores dificulta o acesso das pessoas com deficiência.

Mas Ronaldo explica que, mesmo nas estações não adaptadas, é bem tratado. “Quase todas as estações têm elevadores, e as que não possuem os funcionários dão a maior força. São treinados para isso”.

Em 2010, o metrô de São Paulo entregou dez plataformas elevatórias verticais (PEVS), uma versão simplificada dos elevadores comuns em estações diferentes como Jabaquara, Conceição, Santa Cruz, Ana Rosa e Liberdade e um elevador comum na Estação Sé.




Segundo site do metrô, 28 estações têm elevadores de acesso da rua à estação, quase todas tem elevadores até a plataforma, menos Santo Amaro (Lilás), Consolação (Verde), São Bento sentido Jabaquara (Azul).

Quanto aos outros transportes, Ronaldo afirma que algumas vezes os motoristas não param em qualquer ponto. “As vans que trabalham no Serviço de Atendimento Especial (Atende), da Prefeitura de São Paulo são gratuitas, mas são poucas e acabam deixando muita gente que precisa fora do atendimento.”



Prazo adequação

O prazo para adequação de toda frota urbana e infra-estrutura é até 2 de dezembro de 2014, segundo a cartilha Acessibilidade nos Municípios. Caso as empresas não garantam a acessibilidade, as multas devem ser aplicadas pelo município no valor de R$500 a R$2.500, por veículo da empresa que não atender as condições exigidas.

Transporte Gratuito

O Bilhete Único Especial da Pessoa com Deficiência garante o transporte gratuito nos veículos públicos municipais (ônibus, micro-ônibus) e metropolitanos (Metrô e CPTM). Pessoas com deficiência física, intelectual, auditiva ou visual, residentes na cidade ou na região metropolitana de São Paulo podem utilizar.

“Já começam a surgir serviços de taxi e vans especializadas nesta área. Você liga, marca hora, e te levam e te buscam. É caro, mas de vez enquanto vale a pena”, finaliza.

Para saber quais estações do metrô estão adaptadas: http://www.metro.sp.gov.br/servicos/deficientes/elevadores.shtml

Mais informações sobre o serviço Atende podem ser obtidas pelo site da SPTrans ou pelo telefone 156 (para a Capital). Ou no site da Mara Gabrilli:

http://www.maragabrilli.com.br/servicos/7-atende-servico-de-atendimento-especial.html

Matéria transcrita do Blog Guia Inclusivo, postado por  em 15-11-2011

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Dia Internacional da Pessoa Deficiente





Hoje comemora-se o Dia Internacional da Pessoa Deficiente e no sábado, dia 1º de dezembro participamos da 9ª Passeata pela Inclusão, promovida pelas Secretarias da Pessoa Deficiente do Estado e do Município de São Paulo e pelo Movimento Superação na Avenida Paulista.



Essa passeata tem como um dos objetivos, chamar a atenção das autoridades sobre as necessidades que esse povo “malacabado” (como diz o amigo e jornalista da Folha Jairo Marque) tem, chamar o deficiente a participar da vida social de sua cidade, se mostrar e mostrar aos outros que existimos e somos capazes.



quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A convesa de todo dia

- Oi, bom dia!
- Posso ajudar?
- Não, obrigado, já estou acostumado.
- Não tem medo que a cadeira vire para traz? - Está firme, seguro o corrimão com força.
- Você já caiu alguma vez?
- Sim, várias vezes. A última na estação Consolação. Um tombo feio. Felizmente não me machuquei e também não feri ninguém. Foi um baita susto. - Tenho percebido que existem muitas guias rebaixadas em várias esquinas, isso tem ajudado, não tem?

- Sim, ajudam muito. O maior problema são as calçadas. Cada proprietário faz a sua a seu bel prazer, fica cada uma de um jeito. Tenho por vezes que ir para a rua, corro o risco de ser atropelado, e a maioria está em péssimo estado de conservação. Já quebrei a cadeira mais de uma vez por conta disso, fora alguns tombos.
- E aqui no metrô, tem tido alguma dificuldade? Percebi que se vira bem nas escadas rolantes.
- Os problemas com o metrô começam quando tenho que usa-lo antes das dez da manhã ou entre as 17 e 19 horas. Já mudei meu horário no trabalho por conta disso. Entro as 11 e saio as 19. Assim mesmo tem dias que tenho que ter muita paciência, as plataformas ficam cheias e as pessoas não te respeitam, o melhor é aguardar o fluxo diminuir e esperar, já que estou sentado mesmo.
De vez em quando, as escada rolantes de acesso estão paradas ou é o elevador que está quebrado, vivem em manutenção, quando há alternativa, tudo bem, se não, são os funcionários que tem que dar um jeito, subindo ou descendo as escadas. Certa vez, o metrô parou dentro do túnel, entre as estações Anhangabaú e Sé. Era verão e estava um calor infernal, as pessoas começaram a passar mal, e as portas de emergência foram acionadas, começaram a sair e a andar pela linha. Tive que ser resgatado. Andamos uns bons metros dentro do túnel, os funcionários me equilibrando em um caminho estreito, que mal dava para passar uma pessoa. Foi um perrengue danado.
- E os ônibus? Usa?
- Faz muito tempo que não uso. Tenho relato de amigos que falam que são poucos os ônibus que estão adaptados e os que estão, alguns equipamentos estão quebrados ou os funcionários não sabem operá-los. Sei que até 2014, todos os ônibus da cidade de São Paulo devem ter esse equipamento instalado. Vamos aguardar.
- Até qualquer hora...
- Até...

quarta-feira, 25 de abril de 2012

DEFICIENTE TAMBÉM COMPRA (Provador de roupas adaptado é obrigatório nas lojas) Experimentar roupa antes de comprar pode ser missão quase impossível para quem tem mobilidade reduzida ou é cadeirante. De tão insólito foi o desafio do pai da noiva para provar o terno para o “grande dia” que a mãe, Ana Filomena, registrou os percalços da família em seu blog. Por usar um aparelho ortopédico na perna (sequela de poliomielite), Luiz Fernando precisa de espaço para se trocar, justifica Ana. Mas nem nas grandes lojas encontrou “um mísero provador” adaptado a deficiente físico para ver se a roupa lhe cairia bem, queixa-se. É difícil para ele se trocar em um espaço muito reduzido, comenta. Após inúmeras tentativas frustradas em diversas lojas, Ana passou a olhar a vitrine e ir direto aos provadores para verificar a possibilidade de acomodar o marido antes mesmo de perguntar pelo traje do casamento. “É constrangedor termos de pedir favor para ser atendido. Parece que estamos incomodando”, desabafou. Reclamação como essa é recorrente, “pois ainda faltam acessibilidade e treinamento de funcionários do comércio para atender a pessoa com deficiência de forma adequada, respeitando seus direitos de cidadão e de consumidor”, ressalta Marcelo Vitoriano, gerente nacional de inclusão e capacitação da Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência (Avape). “Não adianta termos rampas de acesso, elevadores, banheiros adaptados, se a pessoa com deficiência física não pode provar uma roupa por falta de um provador adaptado. Não existe acessibilidade parcial e sim acessibilidade plena”, completa Vitoriano. Agora, a existência de pelo menos um provador para deficiente é obrigatória em São Paulo graças à Lei nº 14.737, publicada no Diário Oficial, no dia 11 de abril. Desde então, estabelecimento (loja, shopping center, hipermercado, supermercado, atacadista) que tem o comércio de roupa como atividade principal está obrigado a oferecerprovador de roupa acessível à população com deficiência. Cadeira firme e segura – “A lei procura garantir ao cidadão que tem alguma deficiência física ou mobilidade reduzida o pleno acesso aos estabelecimentos, fato que até hoje não era realidade no comércio em geral”, observa Vitoriano. Argumenta que a nova lei “responde ao artigo 9 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, da ONU, da qual o Brasil é signatário, que cita a acessibilidade como direito de as pessoas viverem de forma independente, participando de todos os aspectos da vida”. As andanças levaram a família à exaustão, mas teve final feliz depois de encontrar loja com provador mais espaçoso e atendente prestativo e disposto a ajudar, escreve a blogueira. O vendedor providenciou cadeira firme e segura para o pai da noiva se sentar e apoiar a perna. Finalmente, mesmo ficando meio desconfortável, Fernando conseguiu experimentar o terno preto que usaria para levar a filha ao altar. “Como podem tantas lojas maravilhosas ser tão despreparadas para acolher cliente deficiente? Deficiente físico não precisa experimentar roupas? Não tem direito à privacidade? Como seria se fosse cadeirante?”, questiona a mãe da noiva. Pelo texto da lei, ainda não está definido como será o provador adaptado, qual é o prazo para o lojista fazer a instalação e se haverá punição ao descumprimento legal. A principal dificuldade para o estabelecimento cumprir a nova legislação pode ser o espaço necessário para a adaptação do provador, explica a engenheira Sanrlei Polini, diretora da Soluções Consultoria. “Para novos estabelecimentos, é mais fácil porque entraria ainda no projeto. Já a adequação requer estudo da área para viabilizar o novo equipamento ou reformar um existente”. Fim da saia justa – Pelos cálculos da engenheira, o custo estimado é de 10% a 20% mais caro do que uma instalação convencional. “A Avape, pela extensa experiência na criação de projetos de acessibilidade, entende que algumas normatizações para esta questão ainda são necessárias. Entretanto, a NBR 9050 oferece excelentes parâmetros para serem adotados como referência para esta questão”, destaca Vitoriano. Diz que a associação está aberta à possibilidade de colaborar na regulamentação da lei. “Podemos estimular as pessoas a consumirem em estabelecimentos que respeitem esta importante legislação. Também propor discussão nacional para que esta legislação seja estendida a todos os Estados da federação já que, teoricamente, têm o dever de garantir a acessibilidade plena a todas as pessoas. Infelizmente, isto não ocorre por falhas de fiscalização e de pressão popular. São Paulo certamente sai na frente com esta medida de respeito a seus cidadãos”, finaliza o gerente da Avape. Ana diz que a lei pode pôr fim à saia justa vivenciada no casamento da filha e nas ocasiões em que o marido precisa sair às compras. O fim do desconforto e do constrangimento ao comprar roupas pode contribuir para que o marido volte “a ter vontade e mais paciência” para ir às lojas. Por conta dos transtornos recorrentes, a esposa passou a comprar as vestimentas do marido e levar para casa para que ele possa prová-las. “Quase sempre acerto. Mas quando isso não ocorre, é trabalho dobrado”. Pelas estimativas, quase 10% da população brasileira têm algum tipo de deficiência física. Croqui provador adaptado – A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) estabelece, pela NBR 9050, que o provador acessível deve ter entrada com vão livre mínimo de 0,80 centímetros de largura, dimensão interna mínima de 1,20 metro por 0,90 centímetros livre de obstáculos. Quando houver porta no eixo vertical, esta deve abrir para fora por questão de segurança e para não ocupar espaço interno. O corredor de acesso deve ter espaço para manobra de cadeira de rodas. A NBR não pede as barras de apoio circular para provador, mas se for considerado vestiário deverá ter as barras, esclarece a engenheira. Claudeci Martins Da Agência Imprensa Oficial

terça-feira, 20 de março de 2012

Guerra e Paz

Logo após o término da Segunda Guerra Mundial, em outubro de 1945, nos Estados Unidos da América, 51 países assinaram a carta que criava a Organização das Nações Unidas, o Brasil inclusive. O presidente da entidade, solicitou que aos membros da Organização fizessem uma doação de uma obra de arte que representasse seus países.
O Brasil, através de seu presidente, pediu a Cândido Portinari que criasse uma obra para ficar exposta na sede da ONU. E entre os anos de 1952 e 1956 ele pintou as telas, Guerra e Paz. Dois painéis medindo ao todo 280 metros quadrados de superfície. Por ironia do destino, Portinari não chegou a ver a sua obra exposta no ONU, por ser ligado ao Parido Comunista da época, os americanos não o deixaram entrar em seu território.
Estive no Memorial da América Latina para ver a exposição dos painéis Guerra e Paz, que vai até o dia 21 de abril de 2012, e também todos os esboços produzidos para o trabalho. Ficar sabendo que mesmo doente e contrariando recomendações médicas, tinha problemas com as tintas usadas nas telas, levou a cabo sua obra mais importante.
Seu sonho era que não houvesse mais guerras entre as nações, infelizmente, o mundo não vê período de paz a muitos anos.
Carlos Drummond de Andrade escreveu um poema sobre Guerra e Paz que compartilho aqui: A Mão … Entre o cafezal e o sonho/ A mão está sempre compondo/ … A mão sabe a cor da cor/ e com ela veste o nu e o invisível./ … Entre o sonho e o cafezal/ entre guerra e paz/ entre mártires, ofendidos,/ … entre o amor e o ofício/ eis que a mão decide;/ …O que era dor é flor, conhecimento/ plástico do mundo./ … e voa para nunca-mais/ a mão infinita/ a mão-de-olhos-azuis de Candido Portinari.”

segunda-feira, 19 de março de 2012

Pedro Henrique - Um Pequeno Guerreiro

Amigos do blog, quem me acompanha sabe que tenho um sobrinho neto, Pedro Henrique, que nasceu com problemas renais. Os rins não se desenvolveram e Pedrinho ficou na UTI pré-natal durante os sete primeiros meses de vida.
Neste período, tomou muitos remédios para estabilizar a pressão e as possíveis infecções, o que, em tese, pode ter causado sua surdez. Dia 28 de fevereiro, foi seu aniversário de três anos. Neste período, passou por várias cirurgias. A primeira, no inicio de 2011, foi o implante coclear. Em julho do mesmo ano, já se preparando para o transplante de rim, foram feitas várias intervenções cirúrgicas. Sua bexiga não havia se desenvolvido, pois não recebia a urina que deveria ser filtrada pelos rins (teve que ser inflada e preparada para a nova empreitada). Um dos rins, o mais comprometido, foi retirado. Tudo isso, sem contar as inúmeras vezes que teve que reinstalar o catéter por onde eram feitas as hemodiálises diárias e recebia uma parte da alimentação. O desenvolvimento pleno do Pedrinho dependia do transplante.
Em outubro do ano passado, surgiu um doador compatível. Depois da cirurgia foram dias de agonia para os pais e familiares, pois não havia uma resposta satisfatória do seu organismo, mas tudo levava a crer que haveria rejeição – graças a Deus e à Ciência, tudo correu bem. Nestes cinco meses pós-transplante, seu crescimento tem surpreendido. Começou a andar (antes ele deslocava-se arrastando pelo chão), já pode alimentar-se com produtos que contém cálcio (o que antes não podia), seus ossos fortaleceram-se e deram as condições para caminhar. Sempre foi um garoto feliz. Adora passear, estar com as pessoas, vive sorrindo.
Pretendo escrever nesse espaço a cada aniversário do Pedro Henrique e falar do seu desenvolvimento e das suas vitórias.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

É Carnaval

Minha relação com o carnaval vem desde criança. Nasci no mesmo bairro da Escola de Samba Nenê de Vila Matilde. Era levado no colo por meus pais para ver os desfiles de blocos e cordões que aconteciam na Vila Esperança, bairro que foi eternizado por Adoniran Barbosa, “Vila Esperança, foi lá que eu passei, o meu primeiro carnaval, Vila Esperança, foi lá que eu conheci Maria Rosa, meu primeiro amor...”. A brincadeira entre a molecada do bairro, baseava-se em molhar uns aos outros e de vez em quando, alguém que estava passando naquele momento, com água colorida, feita da diluição de água com papel de seda, para manchar as roupas temporariamente, que colocávamos em uma “seringa” e espirrávamos nas vítimas, jogar ovos e farinha, isso quando as nossas mães não viam, caso contrario era surra na certa. Foram dias memoráveis. Mesmo não podendo correr atrás da moçada, ficava sentando esperando que alguém viesse me molhar e aí aproveitava e também jogava meu “sangue do diabo”, esse era o nome dessa mistura, na pessoa. Gostava de ficar em cima do muro da casa onde morava e de lá molhar quem passava.
O bairro sempre foi muito carnavalesco, surgiram vários blocos, inclusive um que ajudei a fundar (ou a afundar), chamado “Suvaco de Cobra”, não durou muito, éramos muito desorganizados. A segunda escola de samba do bairro foi a Flor de Vila Dalila. Foi por ela que fiz meu primeiro desfile oficial, quando as escolas de samba. ainda desfilavam na Avenida Tiradentes. Uma experiência impar: desde freqüentar a quadra, aprender a cantar o samba enredo, experimentar a fantasia e, finalmente, entrar na avenida. Rodopiar com a cadeira de rodas em plena Tiradentes, acompanhando a evolução da escola, com a vibração da multidão aplaudindo e cantado: caracas, que emoção! Infelizmente não participei de nenhum outro desfile depois desse.
A escola de samba, Grande Rio, do grupo especial, levará ao Sambódromo, no dia 20 de fevereiro, atletas paraolímpicos para desfilarem, como exemplo de superação, dentro do enredo “Eu acredito em você. E você?”. Contínuo acreditando. Estamos nós, deficientes físicos, cada vez mais integrados e conscientes de nossos direitos e deveres. Um ótimo carnaval a todos os amigos do blog...Fotos Google Com revisão do texto da amiga KGL.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O meu sentir...

Assistindo a um vídeo da atleta, atriz e ativista americana Aimee Mullins, que nasceu com má formação óssea nas pernas e teve que amputá-las logo abaixo dos joelhos quando tinha apenas um ano de idade. Entre outros assuntos, aborda como as pessoas olham para o deficiente físico. A certa altura do vídeo, diz que uma senhora lhe disse que ela era muito bonita e não parecia ter deficiência alguma. Diz para a plateia: não me sinto deficiente.
Utilizei desse preâmbulo para falar um pouco mais sobre como vejo e sinto a minha deficiência. Sempre fui muito alegre. Amigos e vizinhos de minha família viviam dizendo o quanto era bonito e emendavam: que pena que é “aleijadinho” (nunca gostei de ouvir esse termo). Escutei esse tipo de comentário muitas vezes na minha vida. Foram poucas as vezes que me senti como deficiente, como “coitado” (que palavrinha maldita essa),principalmente quando o assunto eram as garotas, achava que as meninas não queriam nada comigo por ter deficiente. Más essa é outra história e volto a ela em outros textos. Também não usei dessa condição para me favorecer seja de que forma fosse. Lembro que quando tinha uns 12 anos, minha mãe queria que vendesse bilhetes da loteria federal numa esquina do bairro onde morava. Não aceitava e, para me convencer, usavam o argumento que determinada pessoa que tinha uma deficiência “até maior que a minha” não tinha vergonha da profissão. Não era vergonha que sentia. Queria estudar, me formar e assim ter um emprego melhor. Claro que tive e tenho dificuldades, como qualquer outra pessoa, mas não reputo esses, à deficiência. Fiquei alguns anos sem estudar por conta do tratamento no Hospital das Clínicas e isso me incomodava muito. Um dos meus primeiros empregos foi para uma empresa familiar que distribuía carnes bovinas e suínas. Trabalhava no escritório que ficava na residência da família. Um dos irmãos acabara de entrar na faculdade e a irmã, professora em escolas do estado, viviam dizendo que deveria voltar a estudar. Depois de cinco anos voltei a estudar. Quinta série, na mesma escola onde havia terminado o ensino fundamental.
A minha cadeira de rodas nem sempre estava em condições de ser usada, os outros garotos adoravam pegar uma “carona”. Havia uma descida para se chegar à escola e sempre descia pelo menos um amigo na “traseira” da coitada. Assim não tinha cadeira de rodas que agüentasse. Como éramos pobres, as mesmas eram doadas pelo Serviço Social e quando quebravam tinha que levá-la para consertar na bicicletaria perto de casa (e nem sempre tínhamos dinheiro para pagar).
Por esse motivo, para não perder as aulas, usava um carrinho de rolimã, nessa época, era o meio de locomoção que mais utilizava. A cadeira de rodas era para ir à escola. Gostei muito de ter voltado a estudar. Me envolvi, nesta época, com o movimento estudantil, e é bom lembrar que vivíamos em plena ditadura militar. Não era permitido, a nós estudantes, falarmos sobre política, governo, ou os dois partidos que existiam: Arena e MDB. Só restava nos envolvermos com os campeonatos internos, as festas e a feira de ciência. Até o nome das chapas que concorriam sofriam censura por parte da direção, essa situação só foi mudar no final dos manos 70, começos dos 80, com a abertura política. Imagens Google

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Um pouco mais sobre mim

Meu primeiro ano na escola não traz boas recordações, toda sala foi reprovada. Explico. O professor, sim era um professor primário, pois naquela época a profissão era reconhecida e os salários melhores, ficava namorando a mulher que nos servia os lanches. Para não deixar a sala de aula sem comando, ele colocava a filha da merendeira para passar as lições. Tivemos que refazer todo o primeiro ano, pois descobriram que não era o ele quem aplicara as aulas e as provas. Foi um martírio grande ter que repetir todos os exercícios iniciais de aprendizagem quando já estava alfabetizado. Durante todo primário fui levado para a escola no colo por minha mãe, ela me deixava na carteira onde ficava até que vinha me buscar no final da aula. Chovia ou fazia sol, grávida ou não, lá estava eu na sala junto com os outros alunos. Foi nessa época que desenvolvi continência urinária, pois não saía da classe para os intervalos e tinha que segurar a vontade de ir ao banheiro. Do segundo para o terceiro ano, mudei de escola, voltei a morar na mesma casa onde havia nascido. O diretor da escola não queria me aceitar como aluno, dizia que meu caso demandava educação especial e que não estavam preparados para receber um aluno deficiente físico. Depois de muito choro e argumentos de minha mãe (que eu não daria trabalho e que me levaria e buscaria), o diretor cedeu e pude concluir o primeiro grau.
Só voltei a estudar quatro anos depois. Neste período fui fazer tratamento médico, fiquei internado várias vezes nas Clínicas a fim de fazer cirurgias que melhorassem minha condição física. Por ser muito “arteiro” acabei desenvolvendo uma escoliose muito acentuada na coluna vertebral. Lembro que em uma tarde, quando tomava banho, minha mãe perguntou o que era “aquela bola” em minhas costas. Não soube responder e percebi que algo grave havia ocorrido comigo. Chorei muito, mas muito mesmo, pois além da paralisia infantil tinha adquirido outra deformidade.
Em outubro de 1970, logo depois do Brasil ser Campeão Mundial de futebol no México, fui internado para a grande cirurgia. Foram 75 dias de internação, a maior parte desse tempo foi para tratar de uma anemia. Enquanto esperava o dia para ser operado, passei a compreender e entender o dia a dia de uma Instituição Total, que consiste em controlar a vida dos indivíduos a ela submetidos substituindo todas as possibilidades de interação social por "alternativas" internas. Os pacientes perdem completamente sua identidade pessoal, vestem-se com um uniforme – nesse caso um avental branco aberto nas costas, os cabelos cortados semanalmente de forma igual para todos, as visitas tinham dia e horário para acontecer. Havia a ala dos homens e a ala das mulheres, em andares diferentes.
Sentia-me como Jack Nicholson no filme “Um Estranho no Ninho”. Fui chamado atenção três vezes e recebi uma advertência. Os motivos foram: promover corrida em cadeira de rodas, vestir-me de múmia usando as faixas do setor de curativos para assustar os mais novos, visitar a ala dos infectados (que era determinante proibido) e, por fim, por namorar. Edna, esse era o nome dela, foi minha primeira namorada, nos conhecemos na missa de domingo celebrada na capela do hospital, e não me contentava em vê-la só nos fins de semana, às vezes dava uma escapada e ia visitá-la em sua ala. Isso foi a gota d’água. Chamaram a minha mãe e a comunicaram que não poderia mais fazer parte do quadro de pacientes e que estava liberado para voltar pra casa. Somente com a intervenção das enfermeiras é que fui impedido de retornar pra casa mais cedo. Em dezembro sofri a cirurgia, quase trinta pontos nas costas e um colete de gesso de dois dedos de espessura. Estava momentaneamente no estaleiro. Fiquei com esse gesso durante nove meses, um parto. Com o passar do tempo quase não percebia o seu peso e o incômodo que ele causava. Coloquei os aparelhos ortopédicos e a comecei fazer fisioterapia, só que não com a frequência necessária, pois dependia de um tio que tinha carro e sua disponibilidade pra me levar ao hospital. A verdade é que não me adaptei com os aparelhos, vivia caindo e me machucando. Resolvi ser cadeirante. Estava com 16 anos, meus amigos estavam estudando e comecei a me preocupar com isso. Havia parado no primário e haveria um longo caminho pela frente, quanto mais cedo começasse mais rápido terminaria e uma das máximas lá de casa era: se com estudos já é difícil, sem ele seria impossível arrumar um bom emprego.
Agradecer a KGL pelas dicas. Imagens Google

sábado, 21 de janeiro de 2012

Quando tudo começou...

Nessa foto estava com um ano de idade, antes da Paralisia Infantil.
Esse é o primeiro texto que escrevo depois que remodelei o Blog. Tenho o objetivo de passar a vocês um pouco de minhas experiências vividas ao logo de minha vida e mostrar que mesmo portador de uma deficiência física, e cadeirante, não impediu que vivesse a vida plenamente e com toda liberdade. Por isso o novo nome do blog: Rodas da Liberdade Nasci no dia 23 de agosto de 1956. Sou o filho mais velho entre os 8 que meus pais tiveram. Meu nascimento encheu de alegria a família que estava se formando, simbolizou recomeço, pois antes do meu nascimento, minha mãe deu a luz uma menina que faleceu com meningite com seis meses de vida. Ela conta que já dava os primeiros passos sozinho em volta do berço, quando, com 13 meses de idade, fui acometido de uma gripe muito forte, com febre alta já não me mantinha em pé. Acabara de adquirir a Poliomielite, uma infecção viral, por conta dessa “gripe” fiquei internado 18 dias no Hospital das Clinicas. O diagnóstico era o da Paralisia Infantil. É importante salientar que esse poliovírus é altamente transmissível e aconteceram vários casos. As vacinas que existiam naquele momento, não eram muito eficazes, e só foi possível o combate efetivo à doença quando o Sr. Alberto Sabin desenvolveu a milagrosa gotinha. Com a perda da primeira filha e o meu diagnóstico de paralisia infantil, meus pais ficaram inconformados. Acredito que foi a partir desse momento que a relação entre meus pais começaram a se complicar. Mesmo pequeno, lembro das brigas e acusações mútuas que faziam e acredito que minha mãe tenha até hoje o sentimento de culpa com o que aconteceu comigo. O primeiro médico que me tratou, Dr. Rubens, que foi amigo da minha família durante muitos anos, me encaminhou para o HC. Os dias que fiquei internado me deixaram muito fraco, não me alimentava, só chorava. Os médicos acharam melhor que continuasse o tratamento em casa e assim foi feito. Com uma semana em casa já não corria mais risco de morte e a recuperação foi plena. Lembro pouco sobre minha primeira infância. São lapsos de memória nos quais sempre estive sentado observando o mundo ao meu redor. Quase não saía de casa, e quando saía era levado no colo por algum adulto, os destinos se referiam ao hospital ou a igreja. Às vezes, meu pai me levava no bar que freqüentava para que me divertisse um pouco assistindo televisão. Em casa sempre “andei” com a bunda no chão. A perna esquerda sobre a direita, como um quatro, me locomovia com rapidez (Mais tarde meus filhos também imitariam essa minha forma de se locomover). Até os sete anos, morei no mesmo quintal de meus avós maternos. Neste tempo podíamos brincar na rua, não era asfaltada e não passavam muitos carros. As brincadeiras, na maioria das vezes, eram as de pular corda, esconde-esconde, queima, roda, amarelinha, etc.
Quando queria brincar, eles me colocavam como café com leite – aquele que brinca, mas não é levado a sério. Nunca aceitava essa situação. Ou era pra valer ou não brincava, argumentava, discutia e acabava brincando de igual para igual, mesmo com algumas dificuldades conseguia bom desempenho. Haviam outras brincadeiras que não eram exigidos nenhum esforço físico, adorava empinar pipas por exemplo. As primeiras que brinquei foram feitas por meu pai, más logo aprendi a construir as minhas próprias, e me tornei um expert em pipas. Fazia e vendia e com o dinheiro que ganhava, muitas vezes comprei o pão e o leite pra casa. Como disse na abertura, esse é o primeiro de muitos textos que pretendo escrever contando um pouco sobre minha trajetória de vida. Então até lá....