segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O meu sentir...

Assistindo a um vídeo da atleta, atriz e ativista americana Aimee Mullins, que nasceu com má formação óssea nas pernas e teve que amputá-las logo abaixo dos joelhos quando tinha apenas um ano de idade. Entre outros assuntos, aborda como as pessoas olham para o deficiente físico. A certa altura do vídeo, diz que uma senhora lhe disse que ela era muito bonita e não parecia ter deficiência alguma. Diz para a plateia: não me sinto deficiente.
Utilizei desse preâmbulo para falar um pouco mais sobre como vejo e sinto a minha deficiência. Sempre fui muito alegre. Amigos e vizinhos de minha família viviam dizendo o quanto era bonito e emendavam: que pena que é “aleijadinho” (nunca gostei de ouvir esse termo). Escutei esse tipo de comentário muitas vezes na minha vida. Foram poucas as vezes que me senti como deficiente, como “coitado” (que palavrinha maldita essa),principalmente quando o assunto eram as garotas, achava que as meninas não queriam nada comigo por ter deficiente. Más essa é outra história e volto a ela em outros textos. Também não usei dessa condição para me favorecer seja de que forma fosse. Lembro que quando tinha uns 12 anos, minha mãe queria que vendesse bilhetes da loteria federal numa esquina do bairro onde morava. Não aceitava e, para me convencer, usavam o argumento que determinada pessoa que tinha uma deficiência “até maior que a minha” não tinha vergonha da profissão. Não era vergonha que sentia. Queria estudar, me formar e assim ter um emprego melhor. Claro que tive e tenho dificuldades, como qualquer outra pessoa, mas não reputo esses, à deficiência. Fiquei alguns anos sem estudar por conta do tratamento no Hospital das Clínicas e isso me incomodava muito. Um dos meus primeiros empregos foi para uma empresa familiar que distribuía carnes bovinas e suínas. Trabalhava no escritório que ficava na residência da família. Um dos irmãos acabara de entrar na faculdade e a irmã, professora em escolas do estado, viviam dizendo que deveria voltar a estudar. Depois de cinco anos voltei a estudar. Quinta série, na mesma escola onde havia terminado o ensino fundamental.
A minha cadeira de rodas nem sempre estava em condições de ser usada, os outros garotos adoravam pegar uma “carona”. Havia uma descida para se chegar à escola e sempre descia pelo menos um amigo na “traseira” da coitada. Assim não tinha cadeira de rodas que agüentasse. Como éramos pobres, as mesmas eram doadas pelo Serviço Social e quando quebravam tinha que levá-la para consertar na bicicletaria perto de casa (e nem sempre tínhamos dinheiro para pagar).
Por esse motivo, para não perder as aulas, usava um carrinho de rolimã, nessa época, era o meio de locomoção que mais utilizava. A cadeira de rodas era para ir à escola. Gostei muito de ter voltado a estudar. Me envolvi, nesta época, com o movimento estudantil, e é bom lembrar que vivíamos em plena ditadura militar. Não era permitido, a nós estudantes, falarmos sobre política, governo, ou os dois partidos que existiam: Arena e MDB. Só restava nos envolvermos com os campeonatos internos, as festas e a feira de ciência. Até o nome das chapas que concorriam sofriam censura por parte da direção, essa situação só foi mudar no final dos manos 70, começos dos 80, com a abertura política. Imagens Google

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